O tempo não nos acomoda. Não nos faz gostar daquilo que já é nosso, não nos faz esquecer aquilo que já foi um dia. O tempo esconde-se atrás de grandes mágoas e pequenos erros, não passa depressa nem rompe silêncios. Ele não nos ajuda a mudar o destino, a construir caminhos ou a quebrar rotinas. O tempo leva-nos para onde ele quer e traz com ele momentos passados e pouca esperança no futuro. Culpa e mágoa, dor e arrependimento. Hoje, porque já passou muito tempo por mim, vejo que continuo com as mesmas feridas, a mesma rotina e o mesmo sonho. Continuo de mãos atadas pelo tempo. Uma cobardia que ele não levou. O tempo não é nosso amigo se não fizermos nada por nós próprios. Se não agirmos por nós, o tempo cava-nos um buraco bem fundo onde iremos viver para sempre com os nossos erros. Onde iremos respirar o ar poluído dos nossos próprios sonhos perdidos, dos nossos sorrisos enfraquecidos. Um lugar onde só há espaço para nós. Onde iremos morrer com a culpa de ter medo ou com medo de sentir culpa, de mãos amarradas e pé atados, com o coração fraco. Nessa altura o nosso tempo já passou. A vida corre e não espera. Passa sempre com esperança que corras atrás dela.